Chegaram à Juína em 10 de outubro de 1978, sendo que seu Valdir já havia estado em Juína em 1976 quando as estradas ainda estavam sendo abertas.
“Quando eu vim para cá, o meu primo Darcy pretto, pai do Chiquinho, ele veio em Cuiabá e se encontrou com o corretor que vendia para CODEMAT, e falou com ele do projeto Juína que era um projeto muito bom para minifúndio e Madeireira, pois tinha muita madeira, ele veio aqui olhou e gostou, aí voltou no Paraná Ele tinha caminhão e nós tinha mercado e ai ele falou: "ó tu vai para lá vai levar uma fita para mim lá em Juína, se você gostar do lugar eu vou pagar só despesa do caminhão, se você não gostar vou pagar o frete, queria achar um lugar novo e tal”
Valdir carregou a fita e veio para Juína, ficando 17 dias aqui.
“ Tinha uma choupana ali onde é a CO hoje, antigamente era a CODEMAT, ali me mostraram o mapa do projeto de 411 mil hectares, as normas de comprar um terreno como que era, tinha que ter uma imensidade de documentos, podia comprar um terreno comercial, um Residencial uma chácara de dois alqueires e meio e um sítio de até 75 hectares por CPF, documentação toda”.
Valdir voltou para casa ficando 3 meses no Paraná, ajudando no comercio da família e viajando com o caminhão, mas Valdir relata que ficou agoniado, ele queria vir para Juína, mas a mãe não queria que ele viesse, foi o primo Darcy que convenceu a mãe de Valdir, prometendo que ele voltaria no natal, pois a família segundo ele era sempre unida principalmente naquela época do ano.
“Eu vim aqui para trabalhar e era trabalhoso, de Cuiabá até Juína eram 11 dias quando vinha bem, quando vinha por Vilhena passando por Comodoro, ali era um atoleiro, era um absurdo. Estrada boa de Vilhena á Juína, de caminhão era 4 horas, carro baixo 2 horas e meia há 3 horas, era um Estradão. ” Expressa Valdir
Quando chegou o natal todos da CODEMAT, voltava para suas famílias, era de 40 a 50 pessoas, Hilton Campos engenheiro na época, deixou uma banda de vaca, motor de luz e o freezer para ficarem ali, Valdir ia ficar junto, mas teve que levar o primo até Cuiabá em um caminhão Detroit para levar um fusca.
Valdir sabia que ainda tinha muito trabalho, então quando chegou a Cuiabá informou o primo que voltaria, o primo não queria deixar Valdir para trás devido a promessa que fez para a tia.
Mas não adiantou, o pioneiro pegou dinheiro fez umas compras e voltou, chegando aqui no dia de Natal. Ficou mais 6 meses em Juína antes de voltar para casa.
Valdir e Zilda Pretto se conheceram no Rio da Prata, Distrito de Santa Isabel do Oeste Paraná em um baile no dia 13 de agosto de 1966, ela com 14 anos e ele com 17 anos, quando dona Zilda completou 15 anos começaram a namorar e assim foi até o casamento 8 anos depois.
“Ah, dançamos o baile, ele falou que queria me levar para casa, eu falei que não, falei que ainda nem tinha completo 15 anos, eu ia completar 15 anos dia 22 de setembro, ficamos assim uns 2 à 3 meses só se vendo, sem conversar e tal, que a gente participava dos cultos na igreja, nós somos católicos e com 15 anos depois de ele ir em casa e pedir para meu pai começamos a namorar, eu comecei a lecionar com 16 anos, , ai namoramos quase 8 anos, depois casamos, dia 20 de abril de 1974, ficamos morando 3 anos, ai quando a Andrea nossa primeira filha já estava com 3 anos e meio nós viemos embora para o Mato - Grosso, ele já tinha ficado aqui um ano”.
Antes de mudar-se para Juína, Zilda conta que foi muito difícil, pois como recém-casada e com uma filha pequena sem notícias no marido era muito triste, na época Zilda morava com a Sogra no Paraná.
Já aqui em Juína relata Valdir Pretto que naquela época a CODEMAT não vendia os terrenos ainda, eles tinham que primeiro completar o loteamento, ajeitar, fazer tudo, para comprar um terreno já tinha que ter água e luz, pela CODEMAT, e seu Valdir tece que esperar até começarem a venda dos terrenos.
Então como seu Valdir comprou os terrenos onde hoje é a caixa econômica federal, 3000 cada um, um no seu nome e outro no nome do irmão Jacir começou a levantar o mercado Juína e a casa deles que o pioneiro serrou a madeira levou em Vilhena para aplainar e trazer de volta, veio de Vilhena.
“O falecido Olavo, que veio também logo para cá, ele era construtor, construiu o mercado, aí eu deixei ele com a estrutura quase pronta e eu fui embora pra buscar a mudança, aí nesse meio tempo, que eu trabalhava para o meu primo, na fita, eu ganhava 2000 por mês, eu não quis ser sócio com ele, eu queria o mercado, Então na segunda vez que eu vim eu trabalhei com um caminhão Mercedes para a CODEMAT, para bodinho, puxando cascalho lá do Rio Vermelho levando para lá de castanheira, à uns 140 Km, para construir a SEMA, trabalhei 40 dia e 40 noite, o Jacir meu irmão veio nesse meio tempo e me deu uma mão também, aí nós ganhamos um troco até bom ali”. Relata Valdir Pretto
Zilda disse que não teve medo e nem receio de vir para Juína, pois não tinha medo de enfrentar nada, e onde o marido fosse ela ia. Zilda relata que desde quando o marido voltou a primeira vez queria vir junto com ele.
A família Pretto chegou a Juína a noite já, 8 dias de viajem, dona Zilda relata que não possuía um palmo de asfalto, tudo era de terra e puro areão, na chegada à cidade descarregaram somente o colchão e as malas com roupa, o restante descarregariam somente no outro dia.
Zilda relata como foi sua impressão quando Chegou a Juína
“Ah não tinha cidade né, era só mato, mas eu estava feliz, eu nunca fui uma pessoa medrosa sabe, vamos lá? Vamos! Então vamos ver como que é né, vamos embora, e eu nunca tinha saído do Paraná, mas eu não tive dificuldade nenhuma, na chegada também não, depois é claro a gente ficava muito sozinha, não tinha quase ninguém em Juína, a cidade era dali onde é a Martinello, na época era o Simionato que estavam construindo ali para abrir o mercado, só tinha a farmácia do Geraldo era uma avenida só, onde é a farmácia são Jorge hoje, era um restaurantezinho que era do Sr. Dego, nós ficamos quase 2 anos assim,
Zilda Conta que o primeiro ônibus começou a circular, por que ter um ovo, uma galinha uma carne ou alguma coisa para comer era só em Vilhena
Quando Zilda engravidei do filho Francisco, diz que passou muito mal e teve que ir no médico em Vilhena. Nessa época o ônibus já tinha começado a circular,
“O Chico Pretto me levou pra vilhena que eu estava passando muito mal, e a gente se desencontrou do gringo, ele vindo e eu indo, o gringo (Valdir) chegou em casa trocou a roupa pegou o ônibus e voltou”
Depois de 3 meses eles voltaram para casa devido ao estado de saúde, quando foi para ganhar o filho Zilda voltou para o Paraná, pois aqui ainda não faziam Cesária, mas ocorreu tudo bem ela deu à luz ao 2 filhou, cumpriu a dieta e o marido á buscou de volta no caminhão.
Valdir conta que a volta foi difícil, ele voltou com o caminhão carregado de mercadoria, e com o dinheiro certinho para chegar em Juína, mas em uma curva na estrada próximo à presidente Prudente o rolamento do cardã quebrou, não havia ninguém, apenas uma casinha próxima.
Valdir deu orientações a esposa, tirou o cardã colocou nas costas e saiu a procura de concerto. Dona Zilda disse que com o leite do filho não teve preocupação, já ela e a filha Andrea na época com 5 anos passaram o dia sem comer até quando Valdir voltou já a noite.
Logo que arrumaram o caminhão pegaram a estrada novamente, o alimento era bolacha de agua e sal e uma lata de leite condensado que o pioneiro sempre carregava nas viagens.
Na cidade de Juína a família tocava um mercado, enquanto Valdir corria as estradas com o caminhão e trabalhava com fita de serrar madeira, Zilda a esposa, juntamente com Nice, Jandir e Jacir tocavam o eles ficavam no mercado, quando chegava o caminhão quem descarregava eram eles, seu Valdir ficava em cima do caminhão e Zilda e Nice em baixo carregando fardo de açúcar, arroz, as duas mulheres. E o movimento era muito bom, nos primeiros anos não, mas com o tempo foi melhorando por que chegaram tinha ouro, alguns sitiantes e quem morava assim, mais perto de Juína e mais longe de Vilhena vinha comprar no mercado Juína da família Pretto, o movimento começou aos poucos, foi chegando mudanças, foi chegando mais gente, se espalhando nas terras e movimento foi aumentando.
Como a região começou a se preencher de imigrantes do Paraná, São Paulo, Minas e entre outros, ninguém vinha sem dinheiro, mas como era algo novo serviços ainda era difícil e o que tinha em sua maioria, lavoura e retirada de madeira o que ganhava era para se manter.
Seu Valdir relata do povo acolhedor na nova cidadezinha, das amizades que fez por aqui, o pioneiro conhecia muita gente, desde funcionários da CODEMAT, empresários, políticos daquela época, os que passaram por Juína comeram em sua casa. Ele relata que fez uma edícula, com cozinha, churrasqueira e quem chegasse comia na casa do gringo.
Não tinha nem 3 mil pessoas, somente o módulo 1 estaca aberto, só existia a avenida 9 de maio o resto tudo mato.
“Na rua onde mora o Dr. Hilton hoje, nós morávamos na esquina, tinha 4 casinhas que eram da CODEMAT, moravam pessoas que trabalhavam para a empresa, aí o primeiro médico que veio para Juína foi o Dr. Gilson que morava numa casinha daquelas, bem em frente a nossa casa, e do lado era a casa do Jandir”. Comenta os pioneiros.
Como a cidade ainda era recém-aberta a população os animais ainda rondavam o local, seu Valdir relata que as pessoas pegavam de tudo “ eu fui no módulo 5 não sei te dizer onde, para tirar uma madeira do mato e lá tinha uma cascalheira, eu tive que subir num toco por causa dos catetos, porco do mato”. Relata gringo.
Perguntado qual foi a maior dificuldade que enfrentaram quando chegaram à Juína dona Zilda relata que foi o período das rixas entre as famílias Ferro e Varejão, pois o medo se alastrava não só para ela, mas como para todos que moravam ali.
Sua maior preocupação era os filhos, na época trabalhava no mercado, entrava tiro e quase todo dia matavam alguém, fora esses acontecimentos não tinha medo de nada e nem dificuldade.
Já seu Valdir diz que um momento que o marcou foi quando tinha 27 anos de idade, no dia do seu aniversário, sozinho sem esposa e sem a filha, sem dinheiro para tomar uma coca com saudade de todos.
Outro fato foi que por trabalhar com caminhão e estar sempre viajando, corria o risco de ter seu caminhão roubado ou o matarem para isso. Ele relata que graças a Deus era bastante conhecido e nunca aconteceu nada de ruim.
O momento mais feliz que eu tive aqui em Juína foi o nascimento do meu terceiro filho.
“EU até eu ia para o Paraná para ganhar ele, mas eu tive um sonho, então decidir não ir, na época já se fazia Cesária aqui, tinha o Dr. Gilson, o Dr Romas e o Dr. Hernane que trabalhava sozinho, foi uma alegria para mim, Deus que avisou, “não vá para lá, senão você vai morrer lá”. Hoje quando eu lembro eu fico emocionada por que Deus deu a chance de criar meus dois filhos, e está aqui hoje com saúde graças a Deus, então eu tenho muita fé, e quando eu sinto que Deus me avisa alguma coisa eu não luto contra ele não”. Diz a pioneira
Seu Valdir relata que sua maior felicidade foram as conquistas e todas são uma alegria.
“Não tivemos derrota nenhuma, tivemos agora com a perda da minha netinha né que é uma perda irreparável, mas de outra tristeza não, eu sempre fui feliz eu sou uma pessoa assim, se eu não estou feliz aqui eu peço licença e simplesmente saio”. Relata gringo
Um momento que marcou a família foi o baile de passagem da Filha Andrea, 15 anos e dona Zilda agradece Marilza, qual a ajudou a organizar tudo e a conseguir 12 moças para o baile.
“Foi a coisa mais bonita que fizemos”. Zilda Pretto.
A diversão da época era o futebol, seu Valdir conta que tinha os times do comercial, da CODEMAT, era alegria pura, também dançavam em muita festa, e assim foi indo. A luz era por geradores e vinha as 6h00min da manhã as 8h00 da 11h00min ás 13h00min e das 18h00min da tarde as 21h00min da noite.
Perguntando sobre qual mensagem que os pioneiros deixariam Valdir Pretto responde:
“eu diria que Juína é uma cidade boa, é claro que hoje você já tem que olhar diferente sobre boas amizades, e amizade é aquilo que você leva para sempre e com certeza tem que trabalhar, não achar tentar achar defeito, corrigir os erros, Juína é uma cidade promissora, tudo que o povo pensar cabe em Juína, de comércio até Indústria, pela distância pela logística, o povo é hospitaleiro, eu digo por que eu até hoje graças a Deus sempre contei com Juína, então pra quem está chegando, não tenha receio, só tenha coragem e fé.
Zilda concorda com o esposo e diz que a cidade é boa de morar, tranquila, existe violência, mas ainda é pouco pelo tamanho, o povo muito é acolhedor, muito trabalhador, diria que confiem.
Acompanhe a história completa no vídeo abaixo de Valdir e Zilda Pretto.