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NOTÍCIA

BIOPLASTIA DE BUMBUM: ENTENDA PROCEDIMENTO FEITO POR INFLUENCER QUE MORREU

Data: Sexta-feira, 05/07/2024 17:47
Por: Larissa Feitosa, g1 Goiás

A influenciadora digital Aline Maria Ferreira, de 33 anos, morreu após fazer um procedimento estético para aumentar os glúteos, em Goiânia. A Polícia Civil investiga se a chamada “bioplastia de bumbum” foi feita ou não com a aplicação de polimetilmetacrilato, substância plástica conhecida pela sigla PMMA, considerada de risco máximo. Entenda sobre o procedimento abaixo.

Marcelo Sampaio, vice presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explicou ao g1 que bioplastia de bumbum é o nome comercial para preenchimento glúteo com material não absorvível. Na área estética é conhecido como “cirurgia plástica sem bisturi”, por estimular a produção de colágeno apenas com a injeção do preenchedor. Dessa forma, o bumbum fica bem contornado, volumoso e empinado.

No caso da influenciadora Aline Maria, testemunhas afirmaram à polícia que o procedimento foi realizado por Grazielly da Silva Barbosa, dona da clínica estética Ame-se, em Goiânia. Deveriam ter sido feitas três sessões de aplicação de um produto preenchedor, mas a influenciadora morreu depois da primeira sessão. Ela pagou R$ 3 mil.

A empresária se apresentava como biomédica, mas, para a polícia, explicou que cursou somente três semestres de medicina no Paraguai, além de ter feito cursos livres na área. Ela foi presa na quarta-feira (3).

Segundo a delegada Débora Melo, responsável pela investigação, Grazielly não apresentou nenhum certificado que comprove a conclusão desses cursos até a tarde de quinta-feira (4). E, portanto, ao que tudo indica, não tem competência para atuar na área.

O g1 pediu um posicionamento à defesa da investigada, mas não recebeu resposta até a última atualização da reportagem.

“Em alguns momentos ela (Grazielly) falava que era PMMA, em outros momentos ela falava que era bioestimulador. É por isso que os objetos que nós apreendemos serão periciados para comprovar de fato qual foi a substância utilizada. Mas, de acordo com o relato das testemunhas, era, sim, o polimetilmetacrilato”, afirmou a delegada.

Durante buscas feitas na clínica, os policiais não encontraram contratos de prestação de serviços, prontuários ou qualquer documento que registrasse a entrevista com pacientes. Isso, segundo a polícia, indica que não houve checagem se Aline tinha alguma condição de risco. Essa etapa deveria ser a primeira a ser feita antes da realização de qualquer procedimento.

No dia do procedimento, segundo a delegada, a região do bumbum da influenciadora foi higienizada e, em seguida, Grazielly fez marcações de onde o produto seria aplicado e, em seguida, aplicou. O marido da influenciadora, que acompanhou a realização do procedimento, diz que foi feita a aplicação de 30ml de PMMA em cada glúteo.

“Limpa o local, faz as marcações onde vai ser aplicado e faz as aplicações do produto. Parece que é muito simples, o problema são os efeitos adversos”, afirmou a delegada.

Uso do PMMA
Para a delegada, um dos pontos graves da realização do procedimento está no possível uso do PMMA. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que o polimetilmetacrilato é um componente plástico com diversas utilizações na área de saúde, mas que é de uso restrito e risco máximo, pois sua composição pode causar reações inflamatórias, eventuais deformidades e necrose dos tecidos onde foi aplicado.

No site da Anvisa, o órgão esclarece que a aplicação do PMMA é recomendada somente para corrigir pequenas deformidades do corpo após tratamentos de AIDS ou de poliomielite. E que, mesmo nesses casos autorizados, precisa ser feita por médicos treinados e com a quantidade mínima permitida.

A Anvisa também informa que o PMMA não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos. Mas também não é indicado para aumento de volume, seja corporal ou facial. Com isso, cabe ao profissional responsável, que precisa ser um médico treinado, avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.

O médico especializado em cirurgia geral e cirurgia plástica, Marcelo Soares, explica que a aplicação de substâncias preenchedoras no bumbum é considerada um procedimento minimamente invasivo, injetável e não cirúrgico. Por ser de menor porte, costuma ser realizado por profissionais não médicos e que, por isso, também não são especializados em cirurgia plástica.

Mas segundo Marcelo, a realização de preenchimentos no bumbum também não é recomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e pelo Conselho Federal de Medicina de Proscrição. Tudo isso porque ainda não há uma substância segura e com custo viável.

“Esses procedimentos podem até ser feitos com ácido hialurônico, mas qual é o grande problema? Custo. O ácido hialurônico (produto absorvível pelo corpo) tem uma durabilidade de no máximo 2 anos, o custo se torna inviável. O pessoal faz com o polimetilmetacrilato (PMMA). Foi desenvolvido no Brasil nos anos 2000, se eu não me engano, e nunca deu certo. Existem ciclos. O pessoal começa a fazer, dá problema, sai na mídia, depois param de fazer, se esquece, depois voltam a fazer de novo", alerta Marcelo.

Marcelo Sampaio, vice presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, reforçou a explicação, dizendo que "por ser barato e não exigir receita médica para compra, o PMMA passou a ser utilizado indiscriminadamente e em grandes quantidades".

"Como consequência, surgiram inúmeros relatos de insuficiência renal, necroses de pele, embolias, infecções e mortes. Pessoas não qualificadas têm realizado procedimentos injetando grandes quantidades de PMMA em regiões como os glúteos (bioplastia). O problema é a irreversibilidade, pois trata-se de um material não absorvível", orientou.

Clínica sem alvará
De acordo com a polícia, a clínica Ame-se, localizada na Alameda P-2, Setor dos funcionários, em Goiânia, não tem alvará de funcionamento e nem responsável técnico. Por conta disso, a Vigilância Sanitária interditou o local.

A proprietária, Grazielly, está sendo investigada por crimes contra as relações de consumo, ao ter mentido sobre sua qualificação, induzir pacientes a erro por não prestar informações adequadas a respeito dos procedimentos que são realizados e, também, por não explicar quais eram os riscos envolvendo a aplicação do PMMA.

Fora isso, também é investigada por exercício ilegal da medicina e execução de serviço de alta periculosidade.

Há, ainda, um inquérito paralelo que investiga a possível lesão corporal seguida de morte da influenciadora Aline Maria, totalizando quatro crimes. Sobre esse último, a delegada aguarda a conclusão de um laudo que vai indicar se a bioplastia de bumbum feita por Grazielly tem relação com a morte da influenciadora.